Skip to main content

a linguagem sugestiva e ágil


Arroz de festa é um simpático clichê que se encaixa ao momento do poeta Ronald Augusto. Às 18h desta quinta, o autor volta à Praça de Autógrafos da Feira, desta vez para o lançamento de Decupagens Assim, uma obra de ensaios e críticas literárias escritas a partir de 2004. Acontece que Ronald já havia tido a proeza de autografar dois livros na última quarta-feira, um atrás do outro: Cair de Costas e Oliveira Silveira – Obra Reunida
Em comum nas três obras, há a presença de um filete por onde escorre uma identidade negra. Ronald e Oliveira Silveira tratam da inquietação racial - e nisso eles se parecem muito. Ambos espantam o ranço de um mofo bem comum ao assunto e se utilizam de uma linguagem feito música, verbalizada, que se abre à imaginação.
Cair de Costas, por exemplo, reúne seis livros de poesia de Ronald de edições antigas, já esgotadas. Sobre essa obra, outro poeta, Ricardo Silvestrin, ao ler os poemas de priscas eras até os mais recentes, disse ter flagrado essa constância negra. Tem razão Silvestrin, embora Ronald não pose assim como um ator da causa. Desde os primeiros versos, Ronald demonstra uma inquietação com a linguagem, sugestiva e ágil.
É o mesmo caminho tomado por Oliveira. Não por acaso, Ronald organizou as obras completas do professor que morreu em 2009, aos 68 anos. O livro, sugestão de Silvestrin, editado pelo Instituto Estadual do Livro (IEL), é bem apresentado e traz os poemas desde a publicação de Germinou e Praça da Palavra, nos anos 1960. São 11 obras reunidas. Alguns escritos inéditos da primeira fase foram recolhidos por Ronald, e muito da produção de Oliveira, que antes fazia parte de antologias e cadernos literários, hoje recuperada, dá a ideia de como sua poesia é abrangente, diversa, generosa e expressiva.
Pois Ronald volta hoje à praça com Decupagens Assim. Ali estão textos sobre livro e música publicados no jornal Diário Catarinense, de Florianópolis, e escritos do site Sibila. É mesmo o arroz de festa da Feira. Ainda bem.

Comments

Popular posts from this blog

de lambuja, um poema traduzido

Ivy G. Wilson Ayo A. Coly Introduction Callaloo Volume 30, Number 2, Spring 2007 Special Issue: Callaloo and the Cultures and Letters of the Black Diaspora.To employ the term diaspora in black cultural studies now is equal parts imperative and elusive. In the wake of recent forceful critiques of nationalism, the diaspora has increasingly come to be understood as a concept—indeed, almost a discourse formation unto itself—that allows for, if not mandates, modes of analysis that are comparative, transnational, global in their perspective. And Callaloo, as a journal of African Diaspora arts and letters, might justly be understood to have a particular relationship to this mandate. For this special issue, we have tried to assemble pieces where the phrase diaspora can find little refuge as a self-reflexive term—a maneuver that seeks to destabilize the facile prefigurations of the word in our current critical vocabulary, where its invocation has too often become idiomatic. More critically, we

antipoema para a literatura branca brasileira

  por uma literatura de várzea por uma literatura lavada de notas de pé de página por uma literatura sem seguidores por uma literatura não endogâmica por uma literatura infiel à realidade por uma literatura impertinente por uma literatura não poética por uma literatura que não capitule à noção de "obra", acúmulo de feitos por uma literatura que não seja o corolário de oficinas de escrita criativa por uma literatura que não sucumba à chapa de que o menos é mais por uma literatura desobediente ao mercado livreiro-editorial por uma literatura imprudente por uma literatura sem cacoetes, isto é, o oposto do que faz mia couto por uma literatura que não se confunda com o ativismo de facebook por uma literatura que não seja imprescindível por uma literatura sem literatos por uma literatura, como disse uma vez lezama, livre dos tarados protetores das letras por uma literatura sem mediadores de leitura por uma literatura não inspirada em filósofos fr

35 anos depois, poemas

[primeira redação: 1985; duas ou três alterações: 2020]   1 espelho verde não se sabe de onde parte a vontade do vento confins com os quais o vento confina   2 um paraíso entre uma ramagem e outra e uma outra e imagens que não se imaginam por isso um paraíso   3 marcolini amigo este cálix (quieto) este cálix é um breve estribrilho um confim um paraíso uma música uma náusea                                                                                                                   4 a brisa em pleno brilho vai-se sempiterno para o claro exceto que uma claridade sem margens abeira-nos da escuridão mais aguçada                                     5 copo onde a pedra da luz faísca pão solar gomo aberto vinácea e divina ipásia                                                6 quando as palavras se tornam escuras não é porque há algo de inefável nos objetos a que elas se referem há duas razões para que isso ocorra